A crise financeira impulsionada pela crescente inflação, a revolução digital e os sectores com maior potencial de investimento são as três áreas analisadas por Broseta Pergunta.

Depois de mais de 24 meses a sofrer com efeitos de uma pandemia global, o mundo lida agora com uma crise financeira impulsionada pela subida da inflação e com os efeitos de uma guerra em plena Europa.

Como é que o setor da banca de investimento tem lidado com este cenário e quais os grandes desafios que tem enfrentado?

Em termos macroeconómicos, o momento atual é de uma enorme incerteza. Depois das ajudas monetárias e fiscais que tivemos a nível europeu para podermos combater a pandemia, as quais teremos que devolver em parte, vivemos uma maior insegurança no crescimento económico e em termos de preços. Por isso não nos surpreende que o crescimento de Portugal passe de 6,7% em 2022 (o dobro da média europeia) para um valor mais próximo com a média da Zona Euro (1% a 1,2% em 2023/2024).

Em termos de preços, tão pouco escapamos a esta mega tendência e a inflação de 7,8% com que fechámos Dezembro, será seguida de subidas de preços próximas da média europeia (5,4% 2023 e 2,6% 2024). O Beka Finance tem sido mais construtivo em termos de perspectivas do que o consenso ditado no final do ano passado e agora vemo-nos favorecidos por esse maior optimismo recente.

A dispersão dos dados anteriores dá-nos uma ideia da tremenda prova que a Banca de Investimentos sofreu, passando com louvor, e ainda sofrerá.  O negócio ainda tem de lutar contra alterações regulatórias mais exigentes em busca de maior estabilidade, maior sofisticação do cliente e mudanças logísticas de onde nascem, crescem e fecham as operações ou serviços solicitados.

O maior desafio da Banca de Investimento é continuar a dar estabilidade ao mercado, sendo a linha de distribuição da política monetária, um exemplo, e continuar com uma especialização a par com uma maior digitalização. Muitas entidades deverão finalmente decidir se são provedores de serviços de back office ou middle office, com base no volume, enquanto abrem caminho para que outros se especializem como geradores de valor diferencial para o cliente como front. A pressão sobre as margens e a procura dos clientes forçam essa especialização.

Por parte do Beka Finance optámos por responder aos nossos clientes a partir de um ecossistema onde podem encontrar soluções centralizadas, com ofertas diversificadas de acordo com as suas necessidades (Equity, Financiamento, Reestruturação...), com uma resposta geograficamente deslocalizada e a par com desenvolvimentos de fintech que derrubarão as antigas barreiras de entrada no setor.

Em particular em relação aos valores da inflação, na sua opinião quais deveriam ser os eixos prioritários de ação dos governos nacionais e das instituições monetário-financeiras europeias e internacionais para enfrentar este grave problema?

Nesta matéria existe sempre uma dicotomia entre intervencionismo ou permitir que o mercado se regule. A Zona Euro tem sido mais proteccionista do que mercados como o suíço e este último tem conseguido manter a inflação perto dos 2%.

Falaremos primeiro sobre os efeitos da inflação. O que a pandemia trouxe foi um aumento da diferença entre classes, como demonstra o índice de Gini, que amplia o agravamento das diferenças sociais acima dos valores em 2018.

As medidas implementadas na Europa conseguiram reduzir essa deterioração. Não foi maior do que em outras áreas geográficas, lutando para manter o emprego estável (a taxa de desemprego é inferior a 2018 em Portugal) e o poder de compra das famílias (com cheques de ajuda como na Alemanha). No entanto, influenciar diretamente a origem do aumento dos preços é muito difícil. Apesar do desequilíbrio na cadeia de stocks, destaca-se a dependência externa de matérias-primas. E daí se entende que medidas como a redução de impostos sobre bens básicos não surtem grandes efeitos, mas as decisões conjuntas de intervenção no mercado do gás têm levado a melhorias nas economias.

Em termos de política monetária, 2021 foi o ano com maior injecção de liquidez por parte dos Bancos Centrais e o caminho deverá ser de retirada progressiva da massa monetária. Isso vem de mãos dadas com os aumentos das taxas. Acreditamos que as taxas ficarão em torno de 3,75% no curto prazo.

Duas questões são vitais a curto prazo:

  1. Que os governos monitorizem uma maior eficiência energética (como no caso da Suíça) e atenuem os aumentos que advirão da transição energética para alternativas limpas.
  2. Que as entidades monetárias estejam atentas ao agravamento das condições de liquidez no mercado.

Quanto a áreas de investimento, quais, na sua visão de especialista, são os setores económicos e financeiros mais aliciantes para investimento no futuro próximo?

Relativamente à chamada ‘revolução digital’ em curso o que é que esta tendência trouxe de novo aos mercados de investimento?

No Beka Finance, ao analisar os setores nos quais estamos a concentrar os nossos esforços de investimento e assessoria, levamos em consideração as grandes correntes nas quais o mundo está imerso e Portugal e Espanha, como nossa área geográfica de eleição tem muito a dizer:

  • Mudança demográfica global, com significativo envelhecimento da população
  • A digitalização da economia. Com fundos como o Next Generation.
  • A transição energética.
  • O aumento da tensão geopolítica e a reversão da globalização.
  • A necessidade de aumentar a produtividade da economia.

Portanto, vemos potencial para:

  1. No setor de serviços. Continuar a melhorar o turismo e oferecer uma gama mais ampla de produtos. Portugal continua a ser um mercado imaturo de cuidados a idosos em alojamento. Tradicionalmente, o sustento dos idosos dependia da previdência pública e social. Agora deve haver um aumento de residências e esquemas de moradias independentes. Deve atrair clientes não só nacionais, mas também internacionais.
  2. O passo natural é o benevolente ecossistema europeu promover Fintechs e Neobanks como os que já promovemos (Rebellion e Heytrade) para que possam competir com os melhores internacionalmente e sem esquecer a parte Insurtech.
  3. A transição energética. Estamos diante de um grande desafio. Exemplos como o fotovoltaico, onde o mundo deve instalar 3 vezes mais capacidade solar anualmente no curto prazo para cumprir a agenda de 2030 abrem muitas oportunidades.
  4. O mundo agrícola 2.0. Estamos diante da oportunidade de reconverter o setor. Novas técnicas de plantio, irrigação ou fertilizantes são uma mudança que, juntamente com a aplicação de inteligência artificial, deve gerar melhorias.

A Beka Finance colabora nesta entrevista com a Broseta Portugal.

Luís Malato Correia, Managing Director at Beka Finance

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